quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Entrevista com Sérgio Losnak


Conflitos, chacinas e embates no avanço das ferrovias além da boca do sertão paulista


O avanço das ferrovias no oeste do estado de São Paulo provocou conflitos e o massacre dos povos que habitavam o quadrilátero que se estende de Bauru a Adamantina e do rio Tietê ao rio Paranapanema. Ali viviam índios de várias etnias, principalmente caingangues, também chamados de coroados.
Antes mesmo da chegada das ferrovias a essa região, a fim de ocupar o interior do território brasileiro, o governo do Império dava posse aos interessados em terras devolutas, para criação de gado ou plantações de café. Tais terras eram negociadas de forma ilegal por grileiros – os bugreiros, caçadores de índios contratados para exterminá-los.
Na região de Bauru, considerada boca de sertão, a ocupação aumentou desde 1856, quando se formou um povoado que já enfrentava a grande resistência dos caingangues. Estes teriam dado nome à futura cidade: ubauru, devido a uma planta que eles chamavam de ubá.
Os índios guaranis foram pacificados antes dos coroados; estes continuaram resistindo por anos. Um padre bauruense que tentou contatá-los foi morto por uma flechada, em 1901. Hoje dá nome a uma das ruas centrais de Bauru: Monsenhor Claro Monteiro, apontado como mártir.
As ferrovias chegaram no começo da República. Rodrigues Alves definiu um traçado visando ligar Mato Grosso ao Rio de Janeiro. Em 1905, chegaram a Bauru os trilhos da Sorocabana e, no ano seguinte, os da Noroeste do Brasil. A partir daí, os índios passaram a representar um empecilho para a ocupação dessa região antes isolada. Além da resistência dos índios frente a fazendeiros e bugreiros, agora havia os empregados da companhia franco-belga contratada para a obra da ferrovia.
O professor bauruense João Francisco Tidei de Lima, em tese de mestrado  na área de História Natural (USP, 1978), relatou a violência da disputa por essas terras. Segundo ele, a empresa decidiu desalojar os índios a qualquer custo, sem nenhum trabalho prévio de integração.
Segundo o professor, o empreiteiro Machado de Mello explorava os funcionários da empresa e estava à frente das investidas contra os coroados: "Os empreiteiros chegavam a contaminar roupas com germes de varíola que eram deixados perto dos acampamentos ao longo da ferrovia para que os índios roubassem e levassem para suas aldeias, contaminando toda a população”. A gripe e o sarampo trazidos depois pelos imigrantes dizimaram os restantes. A Praça Machado de Mello, em frente à Estação Ferroviária, no centro de Bauru, homenageia o empreiteiro.

Eis o resultado dos conflitos: ferrovias dilapidadas e índios confinados.

(Foto: Amanda Trevisan)

Bauru se orgulha de sua vocação ferroviária, pois os trilhos da Noroeste, da Sorocabana e da Paulista estão na base do progresso da cidade. Hoje a ferrovia está quase desativada, somente com transporte de carga. Vagões abandonados se deterioram sobre os trilhos.
Quanto aos coroados, dos 4 mil anteriores, em 1916 eram 173; foram enviados para os aldeamentos de Tupã, Graúna e depois Avaí. Nas palavras do geógrafo e mestre José Aparecido dos Santos, professor das Faculdades Integradas Adamantinenses: “O curioso é que um dos principais marcos da ocupação do oeste paulista, que levou ao genocídio dos Kaingang, foi a construção da Ferrovia Noroeste do Brasil, e hoje não temos nem os índios e muito menos a ferroviaprivatizada e depois falida “.



Equipe União Marighella, para a 5ª fase da Olimpíada Nacional em História do Brasil promovida pela UNICAMP.

Adham Felipe Marin, Priscila Rampazo, Amanda Trevisan e Lucia Panzoldo.