quinta-feira, 19 de julho de 2012

O que se comemora em 1º de Agosto?


Profª. Marcia Regina Nava Sobreira

Existe ainda um equívoco histórico cometido por uma parcela da população bauruense e principalmente por migrantes que diariamente transitam pela cidade. Trata-se do número de anos que a cidade de Bauru possui; tem 115 anos contando-se a partir de 1o de agosto de 1896. No entanto, isto não corresponde a realidade, pois em 1885 Antonio Teixeira do Espírito Santo e sua mulher fizeram doação de parte de suas fazendas de uma área de 57 hectares e 25 ares para a formação do patrimônio, denominado Bahuru e, em 1893, outra doação foi acrescida a esta por Veríssimo Antonio Pereira e sua mulher de uma área de 134 hectares e 80 ares, divisão das Fazendas: Água Parada, Bauru e Batalha. Além disso em 1893 já se constituía num Distrito de Paz e possui em 1895 duzentos e vinte e cinco eleitores cadastrados.
Assim, em 1o de agosto de 1896, o que se comemora é a aprovação da Lei n. 428, assinada por Manuel Ferraz de Campos Sales, mudando a sede do município de Espírito Santo da Fortaleza para Bauru: Art. 1o “O Município de Espírito Santo da Fortaleza passa a denominar-se Bauru, mudando-se para esta última povoação a sua sede”.
Bauru tem 115 anos, como município e não como cidade.
O que pode ter até hoje feito perdurar a confusão de anos, além da falta de informação, é o fato de ter sido disputado a aprovação de mudança da sede pelos vereadores locais com o de Espírito Santo da Fortaleza tornando-se até um acontecimento curioso registrado pela história. Por ocasião da escolha de novos vereadores para a Câmara Municipal de Fortaleza para o triênio (1896-1898), foram realizadas eleições. Instalando-se para isto, duas seções eleitorais: uma no Espírito Santo da Fortaleza e outra no Distrito de Paz do Bauru.
Ao se realizar a apuração dos votos o presidente da Câmara de Fortaleza José Theodoro Petento denunciou haver irregularidade na eleição, pois o Distrito de Bauru elegera todos os seus candidatos a vereadores. Visto que anteriormente havia sido feito em Bauru, um novo cadastramento eleitoral aumentando os eleitores de Bauru, enquanto que em Fortaleza não havia sido feito o mesmo.
Os vereadores José Theodoro Petente e Cornélio Brantes Freire da Rocha oficializaram o seu protesto remetendo-o ao Tribunal de Justiça do Estado. Este suspendeu a apuração por 3 meses.
A fim de ganhar tempo, o vereador Petente, no início de 1896, já de posse do resultado desfavorável aos fortalecenses começou a faltar as primeiras reuniões da nova Câmara com o objetivo de não comunicar o veredito aos bauruenses, fato este descoberto por Domiciano Silva.
Prevenido de qualquer atitude de represaria de Petente, no dia da posse da nova Câmara, em 7 de janeiro de 1896, Domiciano juntamente com os outros vereadores bauruenses, combinaram a seguinte estratégia: A sessão estava marcada para as 10:00hs, todavia os vereadores adiantaram os seus relógios em 30 minutos, chegando a Fortaleza marcando as 10:00hs, horário fictício. Não estando presente o presidente da Câmara, José Petente, Domiciano como vice assumiu a presidência e abriu os trabalhos.
O vereador João Antonio Gonçalves, em concordância com Domiciano, apresentou uma indicação a Câmara, no sentido de transferir a sede da Câmara para Bauru: “Considerando que os vereadores que compõem a Câmara Municipal do Espírito Santo da Fortaleza são todos residentes na próspera e futurosa povoação de Bahuru; que aquella povoação dista mais de 4 leguas da decadente Villa de Fortaleza. (...). Indico que seja elevada à Villa, a povoação de Bahuru, pedindo-se para esse acto a approvação do Governo do Estado e desde este dia se considere mudada para aquella Villa a sede da municipalidade, dando se disto conhecimento ao Governo do Estado”.
Esta indicação foi aprovada unanimemente.
Quando Petente e os demais vereadores de Fortaleza chegaram, às 10:00hs, para a sessão da Câmara, já era tarde demais, apesar dos protestos e apelação ao Tribunal de Justiça, por parte dos Fortalecenses, Bauru depois de 6 meses da tramitação do processo, conseguiu que fosse aprovada a mudança da sede. Houve a intervenção do Deputado Estadual Ezequiel Ramos que trabalhou em favor de Bauru.
Os bauruenses comemoraram o fato com grande satisfação, pois Bauru, nesta época, já apresentava um desenvolvimento bem maior do que Fortaleza e era um pólo atrativo de imigrantes e migrantes. Fortaleza em 1910 tornou-se uma estação ferroviária denominada Piatã e desapareceu como povoação.
A partir de 1888 Bauru já recebia as primeiras famílias de imigrantes italianos e em 1892 de espanhóis, que foram povoando a pequena povoação, que começou a ter uma grande desenvolvimento logo depois do inicio da construção da E.F. Noroeste do Brasil em 1905, transformando-se hoje num grande centro comercial do Estado de São Paulo.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

DESENVOLVIMENTO URBANO E SOCIAL DE BAURU

 Profª Marcia Regina Nava Sobreira
 
Bauru teve um crescimento bastante acelerado, visto que em 30 de agosto de 1893, pela Lei nº 209, se tornou Distrito de Paz, pertencente ao município de Espírito Santo da Fortaleza, criado em 1887.  O primeiro juiz de Paz de Bauru foi João Baptista de Araujo Leite.
Nesta época abriram-se fazendas como: a de Val de Palmas, de propriedade do Cel. José Ferreira de Figueiredo; Fazenda Aureópolis, de Azarias Ferreira Leite, Fazenda da Faca, de Joaquim de Toledo Piza  tendo como principal produto de cultivo o café.
No dia 1º de agosto de 1896 foi assinada a Lei nº 428 por Manuel Ferraz de Campos Sales, que mudou a sede do município de Espírito Santo da Fortaleza para Bauru. Em seu artº 1º consta : “O Municipio  do Espirito Santo de Fortaleza passa a denominar-se Bauru, mudando-se para esta ultima povoação a sua sede”.
Esta conquista foi graças a uma luta política entre os vereadores de Espírito Santo da Fortaleza e os de Bauru. Estes últimos organizaram um esquema para transferir a sede do município que pertencia a Fortaleza que se encontrava decadente , pois Bauru recebia um grande fluxo de imigrantes e migrantes a maioria empregada nas lavouras, e por ser  os vereadores eleitos moradores em Bauru,  a cada sessão da Câmara Municipal tinham que se deslocar para Espírito Santo da Fortaleza.
Deste modo, por ocasião da escolha de novos vereadores para a Câmara de Espírito Santo da Fortaleza para o período legislativo de 1896 a 1898 foram instaladas duas seções eleitorais: uma no Espírito Santo de Fortaleza e outra no Distrito de Paz de Bauru.
Ao se realizar a apuração dos votos o presidente da Câmara de Fortaleza José Theodoro Petente, denunciou haver irregularidade na eleição, pois o Distrito de Paz de Bauru elegera todos os seus  candidatos a vereadores. Isto devido ao fato de que Bauru havia feito um novo cadastramento eleitoral aumentando os  seus eleitores, enquanto que Fortaleza não havia feito o mesmo.
Os vereadores José Theodoro Petente e Cornélio Brantes Freire da Rocha oficializaram o seu protesto remetendo-o ao Tribunal de Justiça. Este mandou suspender a apuração por 3 meses , sendo esta iniciada em julho de 1895.
A fim de ganhar tempo, o vereador Petente, no início de 1896, já sabendo que Bauru havia ganho a causa , começou a faltar as primeiras reuniões da nova Câmara com o objetivo de não comunicar a sentença do Tribunal , fato este que foi descoberto pelo vereador bauruense Domiciano Silva.
Contam historiadores do passado que os vereadores de Bauru armaram uma estrategia para transferirem a sede do municipio para Bauru. Segundo relatos destes : no dia da posse da nova Câmara , em 7 de janeiro de 1896, Domiciano Silva juntamente com os outros vereadores bauruenses combinaram adiantar o relógio 30 minutos. Assim estavam no recinto da Câmara às 9:30 hs como se fosse às 10:00hs início da sessão. Sendo assim o presidente da Câmara Petente , fortalecense, não estava no local dando direito ao vice Domiciano Silva assumir a presidência e abrir os trabalhos.
O vereador João Antonio Gonçalves , em acordo com Domiciano, apresentou uma indicação a Câmara, no sentido de transferir a sede da Câmara Municipal para Bauru e ainda pedia a aprovação do Governo do Estado. Imediatamente aprovada por todos os presentes.
Quando Petente e os demais vereadores de Fortaleza chegaram, as 10:00hs, para a sessão, já era tarde demais, apesar dos protestos e apelação ao Tribunal de Justiça, Bauru, depois de seis meses de tramitação do processo, conseguiu que fosse aprovada a mudança da sede. Houve a interferência do Deputado Estadual Ezequiel Ramos que trabalhou em favor de Bauru.
Enfim este é o fato que nós bauruenses devemos comemorar no dia 1º de Agosto, ou seja, a emancipaçào política do município e não a fundação de Bauru que já existia, sendo que a Câmara Municipal de Fortaleza já contava com vereadores residentes em Bauru desde 1889 e  deste dia em diante Bauru não parou mais de se desenvolver como município, enquanto que, Fortaleza, em 1910, dava seus últimos sinais de vida como povoação .     

A vinda das estradas de ferro Sorocabana, Paulista e Noroeste do Brasil, foi o fator determinante na escolha de Bauru como residência por muitos colonizadores. Os primeiros imigrantes a chegarem, em grande número, depois dos portugueses foram os italianos, seguidos pelos espanhóis. Os franceses, alemães, os sírios-libaneses, árabes e japoneses em menor número, aqui chegaram e se ocuparam das atividades comerciais, na construção civil e nas obras da estrada de ferro.

O período de 1888 a 1918 registrou a maior quantidade de imigrantes que entraram no Brasil. Isto entre a abolição da escravratura e o final da primeira guerra mundial (1914-1918). A imigração foi intensa até 1934, quando pela Constituição restringiu-se esta no país. A maior parte destes se dirigiram aos estados de: São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro.

Ao se instalarem na nova terra, os colonizadores tratavam logo de se organizarem e criar um ambiente próprio e familiar, para o seu lazer e integração, surgindo assim as associações e clubes sociais. Em Bauru tivemos vários exemplos, como: 1906, fundação da Sociedade Italiana Dante Alighieri; 1910, Sociedade Hespanhola de Soccorros Mutuos e em 1915, Socied Union Hespanhola.

Destaca-se na área de saúde pública a inauguração, em 18 de junho de 1913, do primeiro pavilhão da Santa Casa de Misericórdia, a qual recebia pessoas vindas de várias partes do país e no ano seguinte a Colônia Portuguesa funda a Sociedade Beneficente Portuguesa.
Tem-se notícia da chegada dos primeiros japoneses na região da Zona Noroeste a partir de 1908, ligados à atividade agrícola cafeeira, depois dedicaram-se  ao cultivo de hortaliças, frutas e a criação de aves.
Com a chegada dos trilhos da Sorocabana em Bauru (1905) e  a inauguração da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em 27 de setembro de 1906, houve uma verdadeira “invasão”de colonos nas terras ocupadas pelos caingangues, causando violentos conflitos entre ambas as partes.
 Na ocasião houve uma especulação imobiliaria aumentando-se os preços dos alugueis e a diminuiçào da oferta de casas para alugar. Além de aumentar o número de construções residenciais, armazéns de fornecimento de gêneros , oficinas, hoteis como Hotel dos Viajantes de Caetano Cariani, prolongamento de ruas como Batista de Carvalho e outros melhoramentos que a cidade exigia com a chegada de milhares de operários, muitos com suas famílias, para trabalhar nas estradas de ferro: Noroeste do Brasil, Cia Paulista de Estrada de Ferro  e Sorocabana.
  Com o desenvolvimento da cidade, pleiteou-se com sucesso a criação da comarca, em 16 de dezembro de 1910, através da promulgação da Lei nº 1225, pelo presidente do Estado, Albuquerque Lins.
   O primeiro juiz de Direito da comarca de Bauru foi Rodrigo Romeiro.
Através da criação do Serviço de Proteção ao Índio, em 1912 deu-se ínicio ao processo de pacificaçào dos índios , que resolveu o grave problema que atormentava os empreiteiros da construção das estradas de ferro que era a fuga em massa de operários temendo pela vida, abandonando constantemente o trabalho. Por outro lado houve o recuo dos indígenas para o interior do Brasil.
Deste modo a região tornou-se mais atrativa, vindo para Bauru, pessoas com formação profissional definida, que estabeleceram-se na cidade , contribuindo para o desenvolvimento socio-cultural da cidade.

A população do município de Bauru vinha crescendo de modo progressivo, visto que em 1907 era de 19.000 habitantes seis anos depois de 24.633, crescimento significativo para a época. Progresso que exigia dos administradores providências com relaçào a urbanização da cidade.
A cidade alcançou um crescimento acelerado sem dúvida  após a chegada da estrada de ferro que deu suporte para a expansão dos negócios agrícolas ligados a lavoura do café como deu margem para a organização de um comércio local que no futuro seria a atividade economica predominante em Bauru.
Desta forma os governantes começaram a reorganizar e instalar uma infra-estrutura na cidade que obedecia as normas estabelecidas pelo Código de Posturas Municipais da Vila do Espírito Santo da Fortaleza(1893) que já não atendia as novas necessidades da cidade. Por isso foi elaborado e aprovado pela Câmara Municipal de Bauru a Lei nº 56 de 24 de janeiro de 1913, ou seja o novo Código de Posturas , o qual vigorou até 1928.
Entre os vários cápitulos deste Código destacamos o referente a Higiêne Municipal,  cuja preocupação era manter limpa a cidade evitando a proliferação das doenças causadas principalmente por insetos e água estagnada, que eram responsáveis pela incidência na região da malária, febre amarela, tifo, leishmaniose, infecções gastro-instestinais bastante comuns na população. Observamos que este ponto ainda é uma constante inquietação dos governantes até os dias de hoje, apesar dos avanços
na medicina a infra-estrutura da cidade continua deficitária.
Alguns artigos merecem ser transcritos para uma maior compreensão dos problemas relacionados a higiêne municipal e que muitos coincidentemente permanecem sem solução , demostrando uma falta de consciência e disposição também de uma parcela significativa da população em resolvê-los. São eles:
` ...”art. 143 - Ninguém poderá sob pretexto algum, impedir ou embaraçar o livre escoamento das águas pelos quintais, canos, valas, sargetas das ruas e logradouro da cidade, arrebaldes e povoações do município, nem desviar, alterar, deteriorar ou obstruir tais serviços.(...)
Art. 144 - É vedada lançar nas ruas, praças, valas e sargetas ou encanamentos, corpos sólidos ou líquidos a salubridade pública, bem assim queimar folhas, cestos, barricas, lixo ou qualquer outro corpo que possa corromper a atmosfera.Multa de 5$000.
Art. 145 - É proibido lançar nas ruas, avenidas ou praças, mesmo a título de encher qualquer reintrância, escavação ou buraco no solo, terra ou areia escavada de quintal ou resultante de qualquer edifício ou obra demolida. O contraventor será multado em 5$000.
Art. 146 - Os corpos em putrefação e animais mortos, serão enterrados pelos donos em lugar e condições que o prefeito indicar, sob pena de ser o enterramento feito pela municipalidade, a custa do contraventor, além da multa de 10$000 que ser-lhe-a imposta
Art. 147 - Aquele que conduzir, sem as necessárias cautelas, cal, carvão e outros materiais que possam espalhar-se pela atmosfera ou prejudicar o asseio das ruas e logradouros públicos incorrerá na multa de 5$000.  
Aqui notamos uma preocupação com a poluição do ar e do solo que continua a vigorar sem muitos progressos.

A tentativa de controle das doenças através da Lei se justifica porque Bauru nos primeiros anos do século XX tinha má fama no que diz respeito a grande incidência de moléstias infecciosas e contagiosas. Uma delas era a  ferida brava, denominada “úlcera de Bauru”, pois as pessoas vinham para Bauru de diversos lugares do sertão da Noroeste onde procuravam se tratar devido a existência de farmacias e alguns médicos radicados aqui
A lepra é caracterizada pela forma de uma ferida no local da picada do mosquito flebótomo. A ferida vai ampliando e torna-se grande, formando uma úlcera. Ela é indolor e por isso muitos doentes deixam de procurar o médico.
O principal perigo é a transmissão de outras infecções através da úlcera formada no local da picada.
Segundo Gabriel Ruiz Pelegrina “os hansenianos que iam chegando a Bauru., eram isolados  da população e os enfermos moravam em casebres muito pobres. Na comunidade que se formava não existia nenhum tipo de preocupação quanto äs crianças que nascessem sãs e estas acabavam por se contaminarem.”
Continua ainda Pelegrina: “Os morféticos vinham à cidade para esmolar e fazer compras à cavalo. Raramente à pé. Quando esmolavam o faziam com canequinhas ou folha de ágate, nas quais eram depositadas as moedas. Esse dinheiro era depois submetido à rigorosa desinfecção, o que se fazia qeimando-se com álcool.”
Os poderes públicos, a quem cabia a iniciativa no sentido de salvaguardar a saúde da população e amenizar o sofrimento dos enfermos, poucos recursos tinha para resolver a situação. Somente em 1933 foi inaugurado o Asilo Colônia Aimorés para abrigar os portadores do mal de HANSEN.
Hoje podemos encontrar o tratamento para o mal no Instituto Lauro de Souza Lima conhecido internacionalmente por suas pesquisas com doenças da pele e outras.
A primeira farmácia aberta em Bauru data de 1895, pelo farmacêutico prático, Adolpho de Oliveira Campos. E a segunda no início do século XX, de Gerson França, com o nome  de Pharmacia Popular, localizada na esquina das ruas Presidente Kennedy e Araujo Leite.
Tivemos o período de 1914-1918 marcado pela Primeira Guerra Mundial, acontecimento que teve seus reflexos também em Bauru principalmente pelo fato de que aqui estavam radicados inúmeros concidadãos dos participantes diretos do conflito.
Isto provocou uma grande movimentação das colônias espanholas, portuguesa e italiana especialmente, com o objetivo de angariar fundos para enviar aos parentes e amigos na Europa. Várias foram as promoções para conseguir isto como: festivais literario musical, bailes, recitais e doações espontâneas. A imprensa local, jornais, se encarregavam de fornecer as poucas informaçòes que se podiam obter naquele momento, além disso publicava artigos de incentivo a população na esperança de melhores dias
Outro fato que muito interferiu no momento histórico bauruensefoi a decisão do Governo Federal de encampar a  Estrada de Ferro Bauru a Itapura e incorporá-la à Estrada de Ferro Itapura a Corumbá (Decreto 12746 de 12/12/1917)mudou o cenário da vida política, economica e social de Bauru.
A Estrada de Ferro Bauru à Itapura era explorada pela Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil, fundada por capital  francês. Sua construção foi empreitada pela  Empresa Construtura Machado de Mello.
Pela incorporação da “Bauru-Itapura” a “Itapura-Corumbá”, ficava constituido uma extensa linha, cujo trafego servia a uma rica região, numa extensão de 1.273 km e 480 metros
As duas estradas de ferro, após a incorporação, passaram a denominar-se Estrada de Ferro Bauru a Porto Esperança.
Para exercer o cargo de diretor foi nomeado o engenheiro Arlindo Gomes Ribeiro da Luz ( 14/10/1918 a 28/11/1922).
Como consequência da fusão das duas estradas de ferro o Governo escolheu Bauru para sediar seus escritórios centrais, que até então vinham funcionando no Rio de Janeiro. Para aqui foram transferidos mais de 200 funcionários, vindos do Rio de Janeiro, São Paulo e Três Lagoas.
Houve a necessidade urgente dos prefeitos pós encampação dotar a cidade de infra-estrutura para manter este enorme contingente humano em Bauru e assegurar a grande conquista. Atualmente esta conquista se tornou um fato do passado que somente  é de interesse dos remanescentes desta época  e historiadores .            
Continuo a transcrever alguns artigos do Código de Posturas de 1913, dos quais muitos continuam sendo ações do dia a dia da população bauruense especialmente das regiões perifericas da cidade.
Art. 148 - É proibida a lavagem de roupas nas ruas,praças, fontes, chafarises e tanques públicos, salvo nos lugares determinados pelo Prefeito. Multa de 5$000.
Art. 149 - Aquele que banhar-se nas fontes públicas, danificar ou lançar objetos imundos ou nocivos nas fontes, tanques reservatórios e arquedutos de onde saem ou por onde passam as águas destinadas ao abastecimento público, incorrerá na multa de 10$000.
Neste artigo em especial vemos a preocupação das autoridades na poluição dos córregos e rios que haviam na região. Vemos no entanto que tal artigo da Lei não foi cumprido e ainda não o é .
Art. 150 - É vedada aterrar ruas, praças e logradouros públicos, quintais, poços, com o lixo removido das ruas ou resíduos de materiais velhos retirados de obras demolidas. Multa de 20$000 e remoção imediata dos resíduos ou lixo para local indicado pelo prefeito.
Art. 151 -Todos os os prédios da cidade arrebaldes e povoações do município serão caiados durante o mês de março de cada ano e pintado de 2 em 2 anos, tanto interiormente como nas frentes salvo de determinação especial imposta por autoridade sanitária. Multa de 20$000 repetida semanalmente até o cumprimento da postura.
Art. 152 - A remoção do lixo das habitações ou resíduos de fábrica e oficinas nem as matérias escrementícias e os restos de folhagens das cocheiras e estábulos, palhas e outros detritos de casas comerciais, bem como folha de galho de árvore, de jardins particulares, a qual será removida às custas dos donos dos estabelecimentos sob pena de 10$000 de multa.
Com a utilização das caçambas para recolhimentos de detritos e o Serviço de Coleta de Lixo Doméstico atual este problema foi amenizado na cidade.
Art. 153 - Os donos ou empresários de estalagens, vilas operárias, hospedaria ou qualquer caso ou habitações coletivas nesse estabelecimento número de inquilino ou hospedes superior à lotação dada pelo prefeito, mediante autorização do engenheiro ou fiscal e serão obrigados a mandá-las caiar nos meses de março e setembro de cada ano trazé-las sempre limpas e desinfetadas. Multa de 50$000.(...)
O surgimento das favelas , o qual em cada barraco possui um número de pessoas bem acima de sua capacidade,  e condições de infraestrutura bastante precária , uma questão pendente e grave em nossa cidade hoje. Não se pode pensar em multa, neste caso, para resolver a questão.

Durante o ano de 1917 tivemos na administração do prefeito, que era médico, Luiz Vicente Figueira de Mello, empenho em conseguir recursos humanos e financeiros por parte da Prefeitura para combater os problemas da saúde pública do município que a muito tempo apresentava um quadro pouco animador ,devido ao grande número de pessoas possuirem domicílio na zona rural e serem desprovidas de infra-estrutura e de recursos médicos disponíveis na cidade. Este quadro vai permanecer até 1930 , quando a zona urbana começa a sofrer um crescimento , um dos fatores foi  a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque que afetou a produção de café em todo o Brasil, provocando uma migração pequena mais significativa para as cidades.
As doenças que mais faziam vitimas na época eram: Impaludismo (malária), tuberculose pulmonar, cancros, tétano, ancilostomiase (amarelão), desinteria, sifilis, febre tifóide, gastro enterites e entero-colites de diversas causas, coqueluche, difteria, lepra e pneumonia.
Para combater as causas das doenças foram realizados visitas do fiscal sanitário às comunidades rurais, colônias de fazendas e outras,com distribuição gratuita de capsulas de “thymol” e comprimidos de sais de ferro fornecidos pelo Governo do Estado, assim como a distruibuição  de folhetos com instruções populares. Vimos aqui que ontem e hoje a melhor maneira de se combater as doenças  é a maciça conscientização da população de como evitar as moléstias, como ela se origina, quais os meios de cura. Somente a educação e recursos materiais é que pode-se chegar a um controle da saúde pública num estado satisfatório.
Na época, os próprios fazendeiros e donos de propriedades agrícolas realizavam um trabalho de prevenção junto aos seus empregados.
Um ponto bastante discutido na época foi a existência de açudes e barragens em rios que provocavam, na maioria das vezes, epidemias em determinadas épocas, como no verão,  com a procriação de mosquitos que passavam a ser transmissores de doenças.
Para combater a proliferação dos mosquitos e água estagnada o prefeito Figueira de Mello mandou aterrar o açude situado no córrego da Grama, no atual Jardim Gerson França, com a denominação deste bairro.
Os casos de febre tifóide era comum devido a falta de limpeza dos terrenos e  quintais de  casas particulares e a existência de fossas que contaminavam os poços que abasteciam as residências. Este problema só pode ser resolvido quando a cidade foi  provida de abastecimento de água encanada e potável.
Na prevenção contra a hidrofobia, ou seja, a raiva, era feito na cidade o extermínio dos cães vadios, tendo sido mortos cerca de 150 cães em 1917. A matança era feita por funcionários da Prefeitura que usavam bolas de striquinina, pois o serviço de apanhar os cães por meio de carrochinhas e laços era mais caro e perigoso para os funcionários que executavam essa tarefa. Hoje esta prática é totalmente proibida por lei.
O abate de bovinos e suinos era também alvo da fiscalizaçãoda Prefeitura. O serviço de inspeção veterinária do gado para o abate, e o exame da carne e orgãos do animal abatido, não era feito de modo adequado, visto que, não havia um médico ocupando o cargo em 1917 para tal inspeção.
Na ocasião a condução de carnes verdes estava a cargo de José Ferrero Regis, o qual fazia constantes melhoramentos neste transporte.
O matadouro municipal não possuia condições sanitárias adequadas para seu funcionamento, além de existir a falta d’agua constante, um dos problemas existentes na cidade. Somente nas administraçoes posteriores é que o matadouro teve em suas instalações as devidas reformas  e ampliações.

Hoje existe o combate constante a Dengue e outras moléstias, através da concientização da população com relação aos cuidados que deve ter para evitar a proliferação do mosquito transmissor da doença , o “Äedes Egyptis”. Uma das providencias mais comum é a remoção do lixo domestico, em mutirão, através da ajuda dos  soldados do Tiro de Guerra que passam recolhendo o lixo , grande parte deste, reciclável. Providência semelhante foi executada pelo prefeito Luiz Vicente Figueira de Mello, que em 1917, ordenou a remoção do lixo das ruas da cidade, diariamente, pela manhã. Este serviço era feito através de pequenas carroças, que eram num total de três para carregar terra e três para remoção de lixo, com sete muares. Este número era insuficiente para as necessidades do município, além de não haver um local próprio para cuidar dos animais. Na época havia os chamados pastos de aluguel. A Prefeitura para resolver o problema teve que comprar uma propriedade para ser construído uma  cocheira para abrigar e cuidar dos animais.
Depois da remoção do lixo a questão é o que fazer com ele?
Atualmente se tem algumas alternativas: o aterro sanitário, o qual tem que ser previamente planejado para que não se torne um reservatório de gases tóxicos; o incinerador; a usina de lixo reciclável, que é um projeto muito útil para a comunidade, inclusive para uso na agricultura , do  adubo orgânico .No entanto, observamos que mesmo com  um serviço de limpeza pública organizado, há muitos focos de lixo, principalmente clandestinos que expõem a população a sérios riscos . Além disso sabemos que nos próprios lixões se formou uma indústria do lixo. O que isto significa?
Para o prefeito Figueira de Mello, faltava um terreno longe da cidade onde pudesse ser depositado o lixo recolhido, o que era feito em vários terrenos diferentes, principalmente nas proximidades da estrada que se dirigia ao município de Agudos, outras vezes em chácaras e em pequenas propriedades, cujos donos solicitavam a cessão desses detritos que lhe fertilizassem o solo. A intenção do prefeito na época era a incineração do lixo. No entanto, o município não possuía verbas para tal providência. Para amenizar este problema o prefeito tinha um projeto de compra de um terreno para nele ser enterrado o lixo, a fim de não servir de centro de proliferação de insetos. Problema agravado em razão da terra arenosa de Bauru, facilitando o deslocamento , com as chuvas, de detritos, das regiões altas para a área central da cidade, tendo-se procurado remediar este inconveniente com a construção de sargetas de madeira. Este fato, persiste , causando muitos transtornos aos bauruenses.
O serviço de abastecimento de água de uma cidade pode representar saúde ou ser agente ativo de proliferação de doenças. Bauru tem um sério problema com as fontes de captação de água . Sessenta por cento da água consumida em Bauru é captada no Rio Batalha, próxima a nascente do rio, e quarenta por cento em poços artesianos e semi artesianos distribuidos pela cidade. Fora isto as alternativas de fonte para o abastecimento de Bauru são muito pequenas, pois os corregos, que atravessam a cidade estão mortos devido se tornarem depositos de dejetos orgânicos e inorgânicos .Além do consumo abusivo que parte da população realiza como: a lavagem, por horas , de calçadas,  ruas, carros, provocando o racionamento de água em outras regiões da cidade., apesar do controle  dos técnicos  da Estação de Tratamento de Água de Bauru-ETA e do Departamento de Água e Esgoto- DAE.      O que fazer para manter o abastecimento e distribuição de água na cidade.
Em 1918 o serviço de abastecimento de água em Bauru, era bastante deficitário, administradores anteriores tentaram resolver a questão, mas não obtiveram resultados positivos.
Foi em 1912 que o Prefeito José Carlos Freire de Figueiredo, instalou duas caixas de captação de água em braços do ribeirão Bauru, uma perto de sua cabeceira e a outra, próximo à  nascente do córrego das Flores. As obras foram planejadas pelo engenheiro Silvio Saint Martin.
O primeiro reservatório de água da cidade estava construído em terrenos hoje de propriedade do Bauru Tênis Clube, localizado na confluência da rua Antonio Alves com a rua Cussy Junior.
Por cinco anos o serviço de abastecimento de água foi explorado pela Companhia de Água e Esgotos de Bauru. Serviço que a Prefeitura Municipal encampou no dia 1º de agosto de 1916. O Prefeito contratou os serviços do engenheiro Manoel Luiz Martins e Julio Pinto de Noronha. Este último ficou com a responsabilidade do levantamento topográfico dos locais onde haveria a possibilidade outra captação de água.
Após alguns meses, o engenheiro Manoel Martins apresentou o relatório no qual , analisou os principais mananciais próximos à Bauru medindo sua capacidade e o custo de suas captações. Os mananciais estudados foram: Córrego da Grama, Água Comprida, Água da Ressaca, Forquilha, da Vargem Limpa e Ribeirão Bauru.
A conclusão dos estudos revelou que as águas do Ribeirão Bauru onde apresenta maior volume d’agua não seria conveniente captá-la, por serem águas demasiadamente suspeitas e apresentaria risco à população, sem exercer sobre elas o tratamento adequado, o que seria dispendioso e pouco prático.
Sobre o manancial da Vargem Limpa tinha um volume de água potável razoável e com grande vantagem de estar a sua cabeceira pouco cultivo e pequena área por desapropriar, de modo que, não exigia grandes despesas. Acrescenta ainda que esta captação resolveria por longos anos o problema de abastecimento de água de Bauru.
Pelo custo elevado da captação de água da Vargem Limpa o Prefeito Figueira de Mello optou pela captação de água da cabeceira do ribeirão Bauru, visto estar no período da Primeira Guerra Mundial e a Prefeitura estar sem recursos para iniciar as obras na Vargem Limpa.
Em novembro de 1917 a prefeitura entrou na justiça com um pedido de desapropriação de terras pertencentes a Evaristo Gonçalves da Silva na Vargem Limpa.
Substituido no cargo de prefeito por Otavio Pinheiro Brisolla este considerando os estudos  do engenheiro Manoel Martins optou pelo aproveitamento do manancial da Vargem Limpa, cujo terreno, num total de 84 alqueires e meio, era de propriedade de Manoel de Camargo. Por cerca de 20 anos a firma Barros, Oliva & Silva, foi concessionária do fornecimento de água da cidade.
Com a captação de água na Vargem Limpa a questão do abastecimento da cidade ficou estável por um tempo e a população passou consumir água de boa qualidade.
Resta saber quanto tempo poderemos consumir água fornecida pelo Rio Batalha? E depois , qual será a  alternativa que teremos?