Profª Marcia Regina Nava Sobreira
O carnaval vem mudando,
de ano para ano, com a perda de certos costumes tradicionais e a modernização
de outros. Por exemplo: nas décadas passadas, principalmente de 30 e 40, quando
ainda não havia escolas de samba, os desfiles de carros alegóricos, todos
enfeitados, com os foliões formando os famosos cordões ou blocos predominava
nas ruas e salões. O uso de confetes e serpentinas era em abundancia. Nos
salões o número de foliões fantasiados era bem maior. Os concursos de fantasias
eram mais concorridos e animados. As marchinhas carnavalescas de tão originais
que até hoje muitas delas continuam fazendo sucesso como se tivesse acabado de
serem lançadas. As famílias participavam dos bailes quase despreocupadas.
Constituía-se o carnaval uma verdadeira festa popular em forma de lazer.
A preocupação com a
compra de enfeites de todos os tipos já tinha lugar, logo nos últimos meses do
ano anterior da grande festa de Momo. As moças e rapazes escolhiam suas
fantasias muitas vezes imitando astros e estrelas do cinema americano ou
nacional. A confecção desta era feita com toda paciência e carinho.
Havia uma casa comercial
bastante conhecida no passado que vendia instrumentos musicais e artigos para o
carnaval. Refiro-me a Casa Veado, do italiano Nicolino Roseli. Eis um anuncio
destes artigos da Casa Veado publicado no “O Bauru” de 1922:
“Casa
Veado”
Rua 1o de
Agosto n.20 recebeu um grande e variado sortimento de artigos para o carnavale.
Lança perfume “Rodo”
extrangeiro, de 30, 60 e 100 gramas;
Lança perfume Colombina,
de 30, 60 e 100 gramas.
Lança perfume “Pierrot”,
de 30, 60 e 100 gramas.
Máscaras de arame,
setins, papelão, etc, lantejoulas, guizas, estrelinhas, medalhas, meias luar, e
outros enfeites.
- chapéus e gorros para
palhaços e pierrots, serpentinas, “Folia”, “Íris”, “Ana Konda” e outros em
cores sortidas.
Confetes em diversas
cores e de ouro.
A Casa Veado, além de
possuir o mais e mais belo sortimento destes artigos, faz aos meus fregueses os
melhores preços do dia.
Visitem, pois a Casa
Veado a rua 1o de Agosto n.20, onde encontrareis tudo o que há de
bom e belo em artigos de carnaval”.
Mas como nos dias de
hoje, existia a preocupação com o sucesso desta festa realizada com toda
segurança aos convidados de Momo, Para isso a polícia realizava e realiza seu
trabalho com seriedade e também fazia recomendações para os foliões para que
tudo corresse em ordem.
Estas recomendações servem, tomadas as devidas proporções,
também para hoje.
Eis uma curiosa nota do
jornal “O Bauru”:
“O CARNAVAL E A POLÍCIA
Serão as seguintes
instruções seguidas pela polícia local, durante os folguetos carnavalescos:
1 – É expressamente
proibida todas e qualquer pessoa fantasiar-se, sem licença da polícia, devendo
ser detida para averiguações as que não apresentar, quando pedidas, a
respectiva licença.
2 – É expressamente
proibido o entrudo ou divertimentos idênticos, antes e durante o carnaval, sob
penas de apreensão dos artigos a ele destinados, onde encontrados, incorrendo
os infratores em prisão.
3 – São formalmente
proibidos, antes e durante o carnaval, os chamados “cordões” a cantoria em
grupos ou de indivíduos, quando ofendem os bons costumes ou o decoro público,
bem assim qualquer referencia, direta ou indireta, a determinada pessoa, por
meio de gesto, signal ou palavra ofensiva.
4 – É também proibido o
uso de estalos carrapichos, pós, graxa, kerozene ou artigos idênticos, ou
objetos que possam molestar qualquer pessoa.
5 – A polícia procederá
contra os que se servirem de lança perfumes contendo substâncias perigosas
desse artigo e, bem assim, contra os que concorrerem para esse fim.
6 – A polícia agirá
energicamente contra indivíduos que faltarem com o devido respeito às famílias
e as pessoas que transitarem pela cidade.
7 – Nenhum préstito,
fantasiado ou não, poderá sair a rua sem prévia licença.
As sociedades
carnavalescas deverão apresentar, quanto antes, para o respectivo exame, plano
geral dos préstitos, seus carros alegóricos ou criticas e o etinerário a
percorrer”.
Nos dias de hoje o
trabalho da polícia a cada ano se torna mais difícil, porque há pessoas que não
encaram o carnaval como uma festa onde o respeito humano deve estar presente e
sim como momento para “afogar as mágoas”, “esquecer os problemas” às custas dos
outros o que origina abusos e transtornos à comunidade.
Vamos fazer do carnaval
um momento de alegria e não causa de tristezas.
Analisando o carnaval,
concluímos que ele serve a todos. Para os que gostam, alguns chegam até no
exagero de seu aproveitamento, pulando, cantando e abusando das bebidas. Para
os que não gostam, aproveitam para descansar, nas praias, no campo e nos
retiros espirituais quando se trata de pessoa mais ligada a vida religiosa. Uma grande parte do povo visita seus familiares. Haja vista
que, nessa época, esgotam-se todas as passagens para as diversas regiões
do Brasil.
(Publicado no
Diário de Bauru em 01/3/1990, p. 8).