segunda-feira, 7 de maio de 2012

LEITURA DE DOCUMENTOS E A PRODUÇÃO HISTÓRICA


  Marcia Regina Nava Sobreira

RESUMO

O presente estudo visa demonstrar  como fazer a leitura e interpretação de documentos de diferentes  suportes utilizando-os como recurso didático para que o ensino de História seja mais participativo e dinâmico entre alunos e professores. Descreve algumas técnicas de  coletas de dados mais comuns para serem utilizados pelos professores na construção da história local,  em seus vários aspectos relacionados com acontecimentos do presente e passado do contexto histórico nacional e internacional.

Unitermos: documentos históricos, história local, educação, métodos


INTRODUÇÃO


Por muito tempo as práticas pedagógicas se pautaram por metodologias nas quais os professores expunham os conteúdos e os alunos reproduziam sem terem espaços para criar, analisar e muito menos expor suas idéias, num ambiente onde o aluno ouvinte predominava. Hoje os objetivos são outros de se formar pessoas criticas participantes do processo de transformação político social questionando a realidade, formulando problemas e com capacidade de apresentar possíveis soluções.
Para tal é preciso haver uma mudança de metodologias que permitam que os alunos possam compreender o mundo a partir do estudo  da microhistória  para macro história. A questão é que para isso é necessário buscar novas fontes de pesquisa que possam retratar com maior fidelidade a realidade vivida pelo aluno.
Verificamos que existe uma carência na formação acadêmica dos professores que atuam no Ensino Fundamental e Médio quanto a identificação e utilização de diferentes fontes de pesquisa como instrumentos didáticos no ensino de História.
Desta forma o presente estudo visa fornecer  subsídios para os educadores realizarem a leitura e análise de  fontes de pesquisa que poderão serem utilizadas na produção do conhecimento sobre a  história local.

PRATICAS EDUCATIVAS

 As praticas educativas nas Escolas tem se voltado para resgatar e valorizar a história das comunidades, nas grades curriculares depois de muito tempo voltadas para questões da chamada macro-história muitos destes temas distantes da realidade do aluno.

Deste modo muito   se perdeu de nossas raízes. E esta volta as origens é necessária para o desenvolvimento da cidadania.  Os educadores precisam ser orientados de como fazer o estudo da história da comunidade local e como está esta inserida no contexto nacional e internacional. Para isso há necessidade de se escolher métodos adequados para que o trabalho tenha bons resultados e cumpra os objetivos propostos.

              Dos objetivos gerais do Ensino Fundamental para História indicados nos Parâmetros Curriculares Nacionais  destacamos:
          “Saber utilizar diferentes fontes  de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos” e questionar a realidade formulando-se problemas e tratando, de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise critica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.”
           

Neste sentido uma das estratégias é a utilização de documentos de diversos suportes que possam ser coletados na própria comunidade envolvida para que possam ser  estudados de forma que sirvam não só como fonte de pesquisa , mas parte do arquivo histórico desta comunidade.

           

             Para isso ,  primeiro é preciso que os profissionais da educação possam trabalhar com diferentes documentos e retirar deles as informações selecionadas para junto com os alunos a comunidade construir a história local e aproveitar todo potencial que a população e o bairro pode oferecer relacionando-se com a urbanização da cidade.


           Desta forma os educadores  poderão contribuir para a reconstrução de uma escola mais dinâmica e inserida em sua comunidade que vive. Além de colaborar para a formação da consciência histórica de jovens dando-lhe condições de entendendo a comunidade em que vive, em suas raízes, lutar pela melhorias de condições de vida desta.          


Escrever a História local juntos.


Muitos pensam que somente aos historiadores pertencem a tarefa de estudar e escrever a história das sociedades. No entanto, não podemos esquecer  que quem faz a história são os indivíduos que juntos formam o grupo social que por sua vez serão cidadãos que constituem-se num povo responsável  por cada momento histórico de um país.


Callai (1988) defende a participação ativa dos alunos para a  formação da cidadania:
                                “Os alunos precisam Ter a consciência de que devem vivênciar sua própria história, as      transformações que ocorrem através de ações de cada um, na dinâmica do cotidiano e sua relação entre o passado, presente e futuro.
                              “Estudar o local é muito importante para o aluno, pois ali ele “conhece tudo, ele sabe o que existe, o que falta, como são as pessoas, como estão organizadas as atividades, como é o espaço...”

         No entanto verificamos uma série de limitações em nossa sociedade para a preservação da documentação existente que forma nosso patrimônio histórico cultural dificultando a permanência de memória e a história e consequentemente a falta de identidade de um povo trazendo uma perda na qualidade de vida das pessoas.
        Para que haja mudança nesta situação  e a  conservação da memória e da história  é necessário que a Escola seja agente desta transformação através de métodos que realmente possam estimular alunos e professores para que aconteça  ensino com aprendizagem da história local, num ambiente multidisciplinar. Trabalho em que todos sejam autores deste processo.
          São vários os meios que podem ser utilizados, iremos apontar alguns caminhos que poderão ser trilhados e ampliados na busca de territórios onde a população adquira uma consciência coletiva não apenas de seus valores, como também da descoberta, manutenção e melhoria dos modos de vida dessa comunidade.

Fontes históricas


O ser humano sempre sentiu a necessidade de registrar os acontecimentos do seu cotidiano principalmente para poder transmití-lo para os outros individuos do grupo, antes mesmo do desenvolvimento da escrita. Os primeiros relatos foram grafados em cavernas com materiais fornecidos pelo meio ambiente, ao seu redor, como pedaços de rochas, madeiras, ossos de animais, o carvão e outras tintas que o ser humano começou a confeccionar.
           Com  a evolução humana  houve a invenção da escrita,  responsável pela produção documental dos períodos históricos subsequentes.
            Callai e Zarth (1988)  apontam que :
De modo geral, a escola tem se limitado a ensinar história  através de livros produzidos por pesquisadores-historiadores ou, na maioria dos casos, através de manuais didáticos (...) a criança estudante e a população em geral acabam por incorporar como natural e única a visão de história que é transmitida pelos manuais didáticos...

Assim a  Pesquisa Bibliográfica é a mais comum em que o levantamento de dados é feito através de publicações em forma de livros, trabalhos acadêmicos, boletins, jornais e revistas que podem ser lidos e retiradas as idéias principais e secundárias e depois reelaboradas as idéias contidas em um novo texto redigido. Não pode se omitir a referências para tornar o trabalho sério e com credibilidade.
           
 Até a década de 1970 ainda era relativamente pequeno o número de trabalhos acadêmicos que se utilizavam dos jornais e revistas como fonte para o conhecimento da história local e nacional. Isto se explica pelo fato do pesquisador de qualquer área do conhecimento estar preocupado com a busca da verdade dos fatos, que julgava encontrar nos documentos ditos como conteúdos autênticos  que eram considerados fontes marcadas pela objetividade, neutralidade, fidedignidade, credibilidade, além de distantes de seu próprio tempo. Neste contexto os jornais não se enquadravam, pois continham fragmentos do presente, empregnados de interesses pessoais , políticos, compromissos e paixões.

O conteúdo dos jornais é bastante rico possibilitando uma série de abordagens temáticas como: questão do movimento operário, do corpo, as festas, os jovens , as mulheres, aspectos do cotidiano, etnias e outros que eram pouco estudados.

  A escravidão no Brasil é um tema muito fértil para ser estudado através de jornais de época que trazem artigos, propagandas, desenhos,  dados econômicos que podem proporcionar uma análise da situação dos negros antes, durante e depois da escravidão.

   Um segundo tipo é a pesquisa de campo  realizada quando os estudiosos vão em busca de informação fora das bibliotecas. Esta  coleta pode ser de varias formas:
Depoimento: primeiro é feita a seleção de pessoas da comunidade que serão ouvidos e gravado o registro do relatos de moradores, artistas antigos do bairro que narram como era o início de suas atividades, seu modo de vida, etc,  
Entrevista: Após seleção do tema e do entrevistado é acordado o horário , local, e é elaborado um roteiro de questões a serem feitas. Transcritas as informações obtidas , estas  devem ser apresentadas ao entrevistado para a sua aprovação. Deve-se ainda ser elaborada uma carta autorização na qual o entrevistado  autoriza o  uso das informações prestadas, principalmente em futuras publicações.
Os depoimentos e entrevistas podem ser escrito, gravado ou filmado com previa autorização do depoente.
Alberti (2005) reafirma o uso das fontes orais para se escrever a História:
“A história oral permite o registro de testemunhos e o acesso a “historias dentro da História” e , dessa forma, amplia as possibilidades de interpretação do passado”.
Coleta de documentos. Poderá ser feita através de doações de antigos moradores que possam fornecer fotografias, manuscritos, impressos, objetos museológicos, telas a óleo, gravuras etc, que poderão ser objeto de empréstimos para a organização de exposição aberta ao público ou doação na qual será reservado um local guarda e conservação deste material para consultas da comunidade estudantil e outros interessados.
Construções antigas e modernas Pode ser feito um estudo sobre as edificações do bairro, verificando se o tipo de construção, a origem, o estilo arquitetônicos, proprietários, função social, localização, etc.
Alguns itens deverão ser observados na análise dos documentos:
Texto: espécie, estado de conservação, ortografia, vocabulário, estilo de linguagem de época  e o conteúdo .
Fotografia: Estado de conservação, identificação do assunto, evento, personagem , período histórico, localização geográfica e contexto histórico.
Artigo de jornal ou revista: autor, título, publicação, data, linguagem, ortografia, vocabulário, assunto (principal e secundário, contexto histórico, linha editorial, ilustrações.
Tela a óleo e desenho: autor, título, data, tema, escola  de pintura , interpretação.
Prédios (construção-arquitetura): O que é?; Para que serve?; construtor, estilo arquitetônico, material utilizado?, Origem do material?; Onde era guardado? ;Qual a época da construção?; Quais as condições atuais? (estado de conservação) ; Como esta sendo utilizado? ; Como colocá-lo no contexto, no tempo, no espaço, condições sociais, econômicas, etc.
Objeto ( peça museologica): Forma física: ornamentos, símbolos e marcas; quem produziu e Como produziu?;  Materiais e Técnicas:  Com que foi feito?; Quem usou ou usa?; Pessoa ou Grupo social?; Significado? e Por que foi guardado?
Propaganda Comercial: Tema , publicação, data, contexto histórico, linguagem, vocabulário, mensagem direta e indireta.
Praças e Ruas: Levantamento dos patronos ou acontecimentos históricos, da histórico, localização geográfica, uso do local, características próprias, atividade social e econômica.
Para o registro das informações , poderão ser desenvolvidas atividades como visitas, conversas, entrevistas, observações de fatos e lugares, objetos e ambientes, leituras, discussões tudo orientado pelo professor.

A produção pode ocorrer através da elaboração de texto escrito ou oral, desenho, dramatização, maquete, esquema, etc. Esta será objeto de análise do aluno.

Papel social da escola


A escola, no bairro fará o papel de Centro de Memória local com participação ativa da comunidade que deverá ter a guarda, conservação e organização dos documentos para consulta.
A educadora Celia Lucena (1984) reforça a idéia do papel social da Escola:
“A escola é o local propício para transmitir a manutenção de nossa História, cultura e identidade. Urge, portanto, o repensar nossas              aulas e o material instrucional utilizado, que na maioria das vezes não reflete a cultura do aluno (...) Nós, educadores, devemos assumir uma educação voltada para a coletividade,  não discriminatória...”
     Ainda afirma que ..” o intercâmbio com                entidades  Locais, casas de cultura, museus e bibliotecas
Fornecem espaço para a soma de esforços,                            Objetivando maior dinamização no desempenho dos trabalhos...”

                 Fonseca e Ronque (2003) verificam que ...”os profissionais da educação precisam ser conscientizados da importância dos museus como instrumento de ensino e pesquisa para a construção do conhecimento dos alunos em qualquer área, através de cursos e oficinas, promovidos ou incentivados pelas diretorias de ensino, e pela realização de convênios com museus e escolas, em um trabalho conjunto de atividades extra classe....”

Outra fonte de pesquisa  pouco explorada pelos professores são os arquivos que são provas, testemunhos e informação que podem aproximar estudante-documento proporcionando aos alunos contato direto com fontes primarias e o uso de documentos para o ensino de história, dentro dos conteúdos programáticos.

Bellotto (1991) reforça a necessidade de utilização dos arquivos como recurso didático:
 “O que é preciso frisar é que a educação não pode perder as possibilidades didáticas do arquivo: tornar a história, de uma vez por todas, uma disciplina que se entenda e não que se decore. E o arquivo, se não contemplar a importante força social que lhe oferece o mundo escolar, estará perdendo a  oportunidade de contemplar melhor a sua  necessária participação na vida nacional.”

Este trabalho traz uma riqueza de temas muito grande os quais poderão estar ligados a arquitetura, a migração, a imigração, etnias, movimentos sociais, festas populares, usos e costumes, crenças religiosas, alimentação, artesanato, a vida cotidiana , as manifestações artísticas, talentos que devem ser enfocados dentro dos modelos já referidos.

CONCLUSÃO


 Os professores tem muitas opções para uma renovação na metodologia de ensino utilizando-se de documentos de diversos suportes coletados pelos próprios alunos tornando as aulas  mais participativas, dinâmicas e principalmente fazendo com que o aluno seja coautor de sua história.
No entanto não se pode perder de vista que o estudo do bairro e município não esta isolado e sim faz parte de um contexto maior, nacional e mundial para permitir a compreensão do mundo, da sociedade e do espaço, como agentes e não apenas meros espectadores.

Os arquivos e museus também são fontes de informações que podem conjuntamente com os professores e funcionários destas instituições promoverem ações de construção do conhecimento e promover o ensino e aprendizagem de qualquer tema de forma criativa e dinâmica.

REFERÊNCIAS

BELLOTTO. H. L. Arquivos Permanentes: tratamento documental. São Paulo: T. A Queiroz, 1991.

CALLAI, H. C. e ZARTH, P.  A . O estudo do município e o ensino de historia e geografia. Ijui: Unijui, 1988. (Coleção ensino de 1º Grau)

FONSECA, A .C. B e RONQUE, M. A Museu: ação educativa e cultural. Bauru: [s.n], 2003.

LUCENA, C. R. T. Na Escola, a História de seu próprio lugar. Educação Democracia.  Nº 14 , nov.1984. p.15

MINISTERIO DA EDUCAÇÃO. Parâmentros curriculares nacionais: história e geografia, 3 ed. Brasileira: A Secretaria, 2001.

PINSKY, C. B. et. al . Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.



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