terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Índios e Brancos – difícil convivência 1ª Parte


Profª Marcia Regina Nava Sobreira

   Inúmeros são os trabalhos elaborados sobre a cultura indígena e o resultado do contato desta com os civilizados. As análises têm interpretações ora a favor dos brancos ora a favor dos índios ou ainda tentando ser imparcial. O caso é que desde outrora até hoje a questão é a mesma, a difícil convivência entre os chamados civilizados com os denominados índios.
   Em todo o território nacional sempre houve e há problemas de conflitos entre os civilizados e os índios principalmente porque os primeiros querem ocupar cada vez maior quantidade de terras para acumular ou procurar riquezas. O fato é que desse modo o número de mortos, de ambos os lados, continua grande, especialmente nas regiões Centro Oeste e Norte do Brasil. Infelizmente, em conseqüência disto os povos indígenas estão desaparecendo rapidamente do território nacional. Além disso a maior parte da população brasileira, por diversas razões, está indiferente à questão, haja vista que os movimentos pró indígenas encontram poucos adeptos.
   Hoje calcula-se que existam aproximadamente 200 mil índios de diversas tribos, um número bastante alarmante se considerarmos que no início da colonização do Brasil existiam cerca de 5 milhões.
   Na história da formação de Bauru existe um capítulo dedicado a este aspecto, pois os colonos até os primeiros anos da década de 1910 tiveram um estreito relacionamento com os indígenas da região, nem sempre amistosos.
   Temos que lembrar que os habitantes primitivos destas terras eram os indígenas e que como em todo o país os desbravadores dos sertões chegaram com muita vontade de conquistar terras e tomar posse em busca de riquezas naturais ou produzi-las através da lavoura, principalmente do café.
   Aí começaram os contatos com os índios que naturalmente sentiram a presença dos colonos como uma invasão ao seu território. Entre os próprios indígenas já havia a disputa de terras.
   No início, isto é, a partir de 1848, os índios levavam alguma vantagem, pois eram em maior número e os únicos que conheciam bem a região, sendo assim os desbravadores sofreram grandes perdas apesar de terem superioridade bélica. Mas à medida que o tempo foi passando o número de colonizadores aumentou, vindos de muitos lugares do Brasil, principalmente de Minas Gerais e Rio de Janeiro ou imigrante como espanhóis e italianos, intensificando-se os conflitos. Verificamos também que alguns colonos ao se estabelecerem nas terras conseguiram depois de várias tentativas manter um contato amistoso com os índios não se sabendo bem de que maneira foi obtido o êxito. No entanto, a maior parte dos colonizadores teve que enfrentar os indígenas a punho armado, sendo que muitos de seus familiares perderam a vida e os demais chegaram ao ponto de abandonarem as terras.
   Os colonos além dos índios lutavam contra os obstáculos naturais como: os animais selvagens, insetos e plantas venenosas e a mata fechada, obrigando-os a ter uma virtude fundamental: a coragem para manter-se no território ocupado.
   Os colonizadores ao tomarem posse da terra demarcaram-na e registravam em Cartório com seus limites para garantir sua posse, pois eram consideradas devolutas.
   A partir de 1905 com a construção da E.F. Noroeste do Brasil tendo como ponto inicial Bauru, chegam nestas plagas grande quantidade de homens que vinham trabalhar no assentamento dos trilhos. Este fato está ligado também ao desenvolvimento do comércio da cidade que supria as necessidades básicas destes trabalhadores e dos fazendeiros da região. Também era comum muitos trabalhadores depois de verem os corpos de seus colegas mortos pelos ataques dos índios abandonarem o serviço. Para evitar a evasão dos operários se organizaram grupos armados que acompanhavam os trabalhadores ao longo da construção para dar-lhes proteção.
    Os conflitos se agravaram, tendo que o governo intervir e tomar a importante decisão de fundar um órgão especializado na questão indígena. Isto ocorreu no governo de Nilo Peçanha criando em 20 de julho de 1910 o Serviço de Proteção ao Índio dirigido pelo oficial do exército Candido Mariano da Silva Rondon. Teve como objetivo principal a proteção ao índio. A partir daí os índios passaram a ter direito legal de viver segundo suas tradições, sendo ainda garantida a posse coletiva das terras que ocupavam. Proibia a separação de pais e filhos sob qualquer pretexto e dava a todos os direitos de cidadãos comuns.
  Após a morte de Rondon o órgão entrou em decadência não mais cumprindo suas funções adequadamente, sendo extinto. Foi criada em seu lugar a Fundação Nacional do Índio, em 5 de dezembro de 1967. Este órgão tem recebido constantes críticas de pessoas ligadas a questão indígena acusando-o de não estar cumprindo o seu papel, ou seja, a aplicação correta do Estatuto do Índio, que dá direito ao usufruto dos territórios que ocupam.
    Até 1912 os conflitos entre brancos e índios na região de Bauru foram bastante freqüentes, daí em diante houve a pacificação dos caingang e por que não dizer o seu progressivo desaparecimento.
    Os índios brasileiros de maneira geral não foram tão pacíficos com relação a presença dos estrangeiros em suas terras como relatam alguns livros de história do Brasil. Na maioria das vezes estes se mostraram hostis ao serem atacados pelos brancos, revidavam com bravura.
   Os caingangs ou “coroados” eram índios habitantes da região Oeste do Estado de São Paulo inclusive o município de Bauru.
  Os caingangs recebiam a denominação de “Coroados”, porque homens e mulheres, usavam o cabelo cortado à moda inglesa e os meninos tinham a cabeça raspada; conservando uma faixa de cabelos em volta do crânio ou três madeixas, duas na frente e a outra atrás.
   Os casamentos eram realizados entre homens e mulheres do mesmo grupo. Não era permitida a união com parentes.
    Havia o respeito à fidelidade conjugal. O casal só poderia se separar quando não havia filhos. Os filhos ao atingirem a puberdade eram entregues aos cuidados de um parente próximo até o dia do seu casamento.
    Um caingang só poderia se casar se soubesse lidar com o “Ca” ou porrete ou guarantã e com o arco e a flecha.
    Os homens considerados valentes poderiam ter duas esposas.
    Todos trabalhavam para a manutenção da comunidade.
    As mulheres sempre acompanhavam seus maridos.
   Os caingangs praticavam a caça, a pesca e a coleta de frutos e raízes. Somente comiam carnes bem cozidas.
    Tinham uma cerimônia fúnebre especial que durava vários dias.
   Os caingangs tinham suas roças. Plantavam cereais e legumes, teciam panos, fabricavam utensílios para suas necessidades como: arco, flecha, balaios, tangas e enfeites de penas.
   Dois tipos de casas eram construídas: de uma só água e outra de duas. Eram cobertas com folhas de coqueiros. As camas eram feitas sobre o chão forrado com folhas de palmeiras.
   Os caingangs são davam culto aos mortos e adoravam o fogo. Não possuíam feiticeiros. As moléstias eram tratadas com ervas. (informações do historiador Correa das Neves).
   As tribos brasileiras que recebem denominações de ruas são: Caeté, Caiapó, Emboaba, Guarani, Tupi, Tupiniquim, Tamoio, Tapajó, Tupinambá, Timbira, Xavante e Xingu. 

(Publicado no Diário de Bauru em 08/07/1990 p. 11)

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