Profª Marcia Regina Nava Sobreira
Inúmeros são os trabalhos elaborados
sobre a cultura indígena e o resultado do contato desta com os civilizados. As
análises têm interpretações ora a favor dos brancos ora a favor dos índios ou
ainda tentando ser imparcial. O caso é que desde outrora até hoje a questão é a
mesma, a difícil convivência entre os chamados civilizados com os denominados
índios.
Em
todo o território nacional sempre houve e há problemas de conflitos entre os
civilizados e os índios principalmente porque os primeiros querem ocupar cada
vez maior quantidade de terras para acumular ou procurar riquezas. O fato é que
desse modo o número de mortos, de ambos os lados, continua grande,
especialmente nas regiões Centro Oeste e Norte do Brasil. Infelizmente, em
conseqüência disto os povos indígenas estão desaparecendo rapidamente do
território nacional. Além disso a maior parte da população brasileira, por
diversas razões, está indiferente à questão, haja vista que os movimentos pró
indígenas encontram poucos adeptos.
Hoje
calcula-se que existam aproximadamente 200 mil índios de diversas tribos, um
número bastante alarmante se considerarmos que no início da colonização do
Brasil existiam cerca de 5 milhões.
Na
história da formação de Bauru existe um capítulo dedicado a este aspecto, pois
os colonos até os primeiros anos da década de 1910 tiveram um estreito
relacionamento com os indígenas da região, nem sempre amistosos.
Temos
que lembrar que os habitantes primitivos destas terras eram os indígenas e que
como em todo o país os desbravadores dos sertões chegaram com muita vontade de
conquistar terras e tomar posse em busca de riquezas naturais ou produzi-las
através da lavoura, principalmente do café.
Aí
começaram os contatos com os índios que naturalmente sentiram a presença dos
colonos como uma invasão ao seu território. Entre os próprios indígenas já
havia a disputa de terras.
No
início, isto é, a partir de 1848, os índios levavam alguma vantagem, pois eram
em maior número e os únicos que conheciam bem a região, sendo assim os
desbravadores sofreram grandes perdas apesar de terem superioridade bélica. Mas
à medida que o tempo foi passando o número de colonizadores aumentou, vindos de
muitos lugares do Brasil, principalmente de Minas Gerais e Rio de Janeiro ou
imigrante como espanhóis e italianos, intensificando-se os conflitos.
Verificamos também que alguns colonos ao se estabelecerem nas terras
conseguiram depois de várias tentativas manter um contato amistoso com os
índios não se sabendo bem de que maneira foi obtido o êxito. No entanto, a
maior parte dos colonizadores teve que enfrentar os indígenas a punho armado,
sendo que muitos de seus familiares perderam a vida e os demais chegaram ao
ponto de abandonarem as terras.
Os
colonos além dos índios lutavam contra os obstáculos naturais como: os animais
selvagens, insetos e plantas venenosas e a mata fechada, obrigando-os a ter uma
virtude fundamental: a coragem para manter-se no território ocupado.
Os
colonizadores ao tomarem posse da terra demarcaram-na e registravam em Cartório
com seus limites para garantir sua posse, pois eram consideradas devolutas.
A
partir de 1905 com a construção da E.F. Noroeste do Brasil tendo como ponto
inicial Bauru, chegam nestas plagas grande quantidade de homens que vinham trabalhar
no assentamento dos trilhos. Este fato está ligado também ao desenvolvimento do
comércio da cidade que supria as necessidades básicas destes trabalhadores e
dos fazendeiros da região. Também era comum muitos trabalhadores depois de
verem os corpos de seus colegas mortos pelos ataques dos índios abandonarem o
serviço. Para evitar a evasão dos operários se organizaram grupos armados que
acompanhavam os trabalhadores ao longo da construção para dar-lhes proteção.
Os
conflitos se agravaram, tendo que o governo intervir e tomar a importante
decisão de fundar um órgão especializado na questão indígena. Isto ocorreu no
governo de Nilo Peçanha criando em 20 de julho de 1910 o Serviço de Proteção ao
Índio dirigido pelo oficial do exército Candido Mariano da Silva Rondon. Teve
como objetivo principal a proteção ao índio. A partir daí os índios passaram a
ter direito legal de viver segundo suas tradições, sendo ainda garantida a
posse coletiva das terras que ocupavam. Proibia a separação de pais e filhos
sob qualquer pretexto e dava a todos os direitos de cidadãos comuns.
Após
a morte de Rondon o órgão entrou em decadência não mais cumprindo suas funções
adequadamente, sendo extinto. Foi criada em seu lugar a Fundação Nacional do
Índio, em 5 de dezembro de 1967. Este órgão tem recebido constantes críticas de
pessoas ligadas a questão indígena acusando-o de não estar cumprindo o seu
papel, ou seja, a aplicação correta do Estatuto do Índio, que dá direito ao
usufruto dos territórios que ocupam.
Até
1912 os conflitos entre brancos e índios na região de Bauru foram bastante
freqüentes, daí em diante houve a pacificação dos caingang e por que não dizer
o seu progressivo desaparecimento.
Os
índios brasileiros de maneira geral não foram tão pacíficos com relação a presença
dos estrangeiros em suas terras como relatam alguns livros de história do
Brasil. Na maioria das vezes estes se mostraram hostis ao serem atacados pelos
brancos, revidavam com bravura.
Os
caingangs ou “coroados” eram índios habitantes da região Oeste do Estado de São
Paulo inclusive o município de Bauru.
Os
caingangs recebiam a denominação de “Coroados”, porque homens e mulheres,
usavam o cabelo cortado à moda inglesa e os meninos tinham a cabeça raspada;
conservando uma faixa de cabelos em volta do crânio ou três madeixas, duas na
frente e a outra atrás.
Os
casamentos eram realizados entre homens e mulheres do mesmo grupo. Não era
permitida a união com parentes.
Havia
o respeito à fidelidade conjugal. O casal só poderia se separar quando não
havia filhos. Os filhos ao atingirem a puberdade eram entregues aos cuidados de
um parente próximo até o dia do seu casamento.
Um
caingang só poderia se casar se soubesse lidar com o “Ca” ou porrete ou
guarantã e com o arco e a flecha.
Os
homens considerados valentes poderiam ter duas esposas.
Todos
trabalhavam para a manutenção da comunidade.
As
mulheres sempre acompanhavam seus maridos.
Os
caingangs praticavam a caça, a pesca e a coleta de frutos e raízes. Somente
comiam carnes bem cozidas.
Tinham
uma cerimônia fúnebre especial que durava vários dias.
Os
caingangs tinham suas roças. Plantavam cereais e legumes, teciam panos,
fabricavam utensílios para suas necessidades como: arco, flecha, balaios,
tangas e enfeites de penas.
Dois
tipos de casas eram construídas: de uma só água e outra de duas. Eram cobertas
com folhas de coqueiros. As camas eram feitas sobre o chão forrado com folhas
de palmeiras.
Os
caingangs são davam culto aos mortos e adoravam o fogo. Não possuíam
feiticeiros. As moléstias eram tratadas com ervas. (informações do historiador
Correa das Neves).
As
tribos brasileiras que recebem denominações de ruas são: Caeté, Caiapó,
Emboaba, Guarani, Tupi, Tupiniquim, Tamoio, Tapajó, Tupinambá, Timbira, Xavante
e Xingu.
(Publicado no Diário de Bauru em 08/07/1990 p. 11)
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