Profª Marcia Regina Nava Sobreira
Na segunda metade do século XIX
tivemos na América dois conflitos armados de destaque internacional e que
mudaram o rumo da história: o primeiro foi o chamado Guerra de Secessão (1861-1865)
estadunidense, uma tentativa da região Sul dos Estados Unidos de se tornar
independente do Norte; segundo a Guerra do Paraguai (1865-1870) causada por
interesses políticos e econômicos, entre a Tríplice Aliança (Uruguai, Argentina
e Brasil) e o Paraguai com a participação indireta da Inglaterra na região da
Bacia Platina.
O
Prata era uma região estratégica para o Império Brasileiro, pois as
comunicações entre o oeste da províncias de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande
do Sul, o Sudoeste da província de Mato Grosso e as províncias do sudeste, eram
feitas pela navegação marítima de cabotagem e pela navegação fluvial, através
dos rios da Bacia Platina (Paraguai, Paraná e Uruguai), quando não havia a
ligação por terra.
Após
a disputa, o principal derrotado foi o Paraguai que ficou totalmente destruído,
perdendo parte de seu território para o Brasil e Argentina.
Começou
a se pensar na ligação via férrea do extremo leste do Brasil à Corumbá para
garantir as fronteiras do Sudoeste e Sul com rápido deslocamento de tropas para
a região, além de manter um transporte
de mercadorias ágil.
No
início do novo século, com financiamentos ingleses e franceses, começou a ser
construídas as Estradas de Ferro Bauru a Itapura a Corumbá.
O
construtor Joaquim Machado de Mello, conseguindo concessão para iniciar os
trabalhos de construção da antiga E.F. Bauru a Itapura contribui para que
surgissem centenas de povoações, muitas se transformando em cidades de grande
projeção.
Em
Bauru, de modo especial, se organizou por iniciativa de algumas pessoas ligadas
a administração municipal e à estrada uma homenagem a Machado de Mello,
erguendo-se uma herma na praça que recebeu seu nome em frente da estação da
Rede Ferroviária Federal S. A.
Primeira
com a participação de muitas pessoas, no dia 18 de outubro de 1917, às 17
horas, foi realizada uma cerimônia onde foi colocada a pedra fundamental da
herma.
No
dia 254 o jornal Correio de Baurú, em edição especial, dedicou grande espaço
para exaltar a figura de Machado de Mello, no mesmo dia em que se inaugurava a
herma, com a presença de autoridades locais e com um concerto da Banda
Internacional.
Eis
um trecho desta homenagem:
...
“Os funcionários da E.F. Noroeste do Brasil, querendo significar Exmo Sr.
Machado de Mello o alto preço em que o têm, a fazer-lhe sentir que comprehendem
quanto os seus brilhantes serviços fazem juz ao reconhecimento do paiz, e
especialmente ao do povo d’esta zona, resolveram prestar-lhe uma significativa
e tocante homenagem, erigindo-lhe uma herma ao principio da rua Baptista de
Carvalho, no largo fronteiro à estação d’aquella Estrada. É esse monumento que
hoje, com toda solenidade se inaugura. Realmente, cabia a mais que nenhum
outro, ao povo d’esta terra, prestar o primeiro e duradouro preito ao engenheiro
ilustre a quem devemos, na maior parte, os benefícios de que gozamos. Cabia-nos
attestar, por uma forma bem palpável e eloqüente, que existe em nós aquelle
puro sentimento de justiça, que sabe galardoar o esforço de todo o homem
verdadeiramente util. Verdade seja que nem o verdadeiro monumetno da gloria do
Dr. Machado de Mello, aquelle que ha de levar a sua memória pelos tempos a
fora, levantou-se elle a si proprio: é essa Estrada que corta o sertão paulista em demanda da Costa do
Pacifico, essa Estrada de futuro incomparavel, essa formidavel arteria por
onde, dentro de poucos annos, correrá, em catadupas vertiginosas, a
immensuravel, que se cultuem os homens de valor. E do Dr. Machado de Mello se
póde dizer, sem favor, que fez alguma coisa pelo seu paiz...”
Era
bastante natural o elevado nível de exaltação da figura do eng. Machado de
Mello, pois a ferrovia foi um elemento fundamental para o desenvolvimento de
Bauru e de outras localidades.
Machado
de Mello nasceu em 3 de maio de 1856. Aos quinze anos foi estudar na Bélgica no
Colégio Deperich. Em 1874 formou-se engenheiro pela Escola de Gand, em
Bruxelas.
Voltou
ao Brasil em 1880 começando a trabalhar na construção do primeiro Engenho
Central, em Angra dos Reis. Casou-se em 1882, indo trabalhar na construção da
E.F. Leopoldina onde permaneceu por dois anos.
No
governo do Conselheiro Rodrigues Alves (1902-1906), estando em vista os
trabalhos da Noroeste, foi convidado para construir o caes da Praia de
Botafogo, como empreiteiro geral. Depois na administração de Pereira Passos fez
remodelação da cidade do Rio de Janeiro, participando ainda de várias
construções de estrada de ferro.
Hoje
pela praça Machado de Mello transitam milhares de pessoas todos os dias sendo
que poucas se interessam em ler o nome e muito menos saber quem foi Machado de
Mello. Isto ocorre com todos os monumentos históricos da cidade que por isso
dizem estarem esquecidos.
(publicado no Diário de Bauru em
05/11/1988, p. 11)
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