segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A Praça Machado de Mello


Profª Marcia Regina Nava Sobreira

  Na segunda metade do século XIX tivemos na América dois conflitos armados de destaque internacional e que mudaram o rumo da história: o primeiro foi o chamado Guerra de Secessão (1861-1865) estadunidense, uma tentativa da região Sul dos Estados Unidos de se tornar independente do Norte; segundo a Guerra do Paraguai (1865-1870) causada por interesses políticos e econômicos, entre a Tríplice Aliança (Uruguai, Argentina e Brasil) e o Paraguai com a participação indireta da Inglaterra na região da Bacia Platina.
  O Prata era uma região estratégica para o Império Brasileiro, pois as comunicações entre o oeste da províncias de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, o Sudoeste da província de Mato Grosso e as províncias do sudeste, eram feitas pela navegação marítima de cabotagem e pela navegação fluvial, através dos rios da Bacia Platina (Paraguai, Paraná e Uruguai), quando não havia a ligação por terra.
  Após a disputa, o principal derrotado foi o Paraguai que ficou totalmente destruído, perdendo parte de seu território para o Brasil e Argentina.
  Começou a se pensar na ligação via férrea do extremo leste do Brasil à Corumbá para garantir as fronteiras do Sudoeste e Sul com rápido deslocamento de tropas para a  região, além de manter um transporte de mercadorias ágil.
  No início do novo século, com financiamentos ingleses e franceses, começou a ser construídas as Estradas de Ferro Bauru a Itapura a Corumbá.
  O construtor Joaquim Machado de Mello, conseguindo concessão para iniciar os trabalhos de construção da antiga E.F. Bauru a Itapura contribui para que surgissem centenas de povoações, muitas se transformando em cidades de grande projeção.
  Em Bauru, de modo especial, se organizou por iniciativa de algumas pessoas ligadas a administração municipal e à estrada uma homenagem a Machado de Mello, erguendo-se uma herma na praça que recebeu seu nome em frente da estação da Rede Ferroviária Federal S. A.
  Primeira com a participação de muitas pessoas, no dia 18 de outubro de 1917, às 17 horas, foi realizada uma cerimônia onde foi colocada a pedra fundamental da herma.
  No dia 254 o jornal Correio de Baurú, em edição especial, dedicou grande espaço para exaltar a figura de Machado de Mello, no mesmo dia em que se inaugurava a herma, com a presença de autoridades locais e com um concerto da Banda Internacional.
  Eis um trecho desta homenagem:
 ... “Os funcionários da E.F. Noroeste do Brasil, querendo significar Exmo Sr. Machado de Mello o alto preço em que o têm, a fazer-lhe sentir que comprehendem quanto os seus brilhantes serviços fazem juz ao reconhecimento do paiz, e especialmente ao do povo d’esta zona, resolveram prestar-lhe uma significativa e tocante homenagem, erigindo-lhe uma herma ao principio da rua Baptista de Carvalho, no largo fronteiro à estação d’aquella Estrada. É esse monumento que hoje, com toda solenidade se inaugura. Realmente, cabia a mais que nenhum outro, ao povo d’esta terra, prestar o primeiro e duradouro preito ao engenheiro ilustre a quem devemos, na maior parte, os benefícios de que gozamos. Cabia-nos attestar, por uma forma bem palpável e eloqüente, que existe em nós aquelle puro sentimento de justiça, que sabe galardoar o esforço de todo o homem verdadeiramente util. Verdade seja que nem o verdadeiro monumetno da gloria do Dr. Machado de Mello, aquelle que ha de levar a sua memória pelos tempos a fora, levantou-se elle a si proprio: é essa Estrada que corta o sertão paulista em demanda da Costa do Pacifico, essa Estrada de futuro incomparavel, essa formidavel arteria por onde, dentro de poucos annos, correrá, em catadupas vertiginosas, a immensuravel, que se cultuem os homens de valor. E do Dr. Machado de Mello se póde dizer, sem favor, que fez alguma coisa pelo seu paiz...”
  Era bastante natural o elevado nível de exaltação da figura do eng. Machado de Mello, pois a ferrovia foi um elemento fundamental para o desenvolvimento de Bauru e de outras localidades.
  Machado de Mello nasceu em 3 de maio de 1856. Aos quinze anos foi estudar na Bélgica no Colégio Deperich. Em 1874 formou-se engenheiro pela Escola de Gand, em Bruxelas.
  Voltou ao Brasil em 1880 começando a trabalhar na construção do primeiro Engenho Central, em Angra dos Reis. Casou-se em 1882, indo trabalhar na construção da E.F. Leopoldina onde permaneceu por dois anos.
  No governo do Conselheiro Rodrigues Alves (1902-1906), estando em vista os trabalhos da Noroeste, foi convidado para construir o caes da Praia de Botafogo, como empreiteiro geral. Depois na administração de Pereira Passos fez remodelação da cidade do Rio de Janeiro, participando ainda de várias construções de estrada de ferro.
  Hoje pela praça Machado de Mello transitam milhares de pessoas todos os dias sendo que poucas se interessam em ler o nome e muito menos saber quem foi Machado de Mello. Isto ocorre com todos os monumentos históricos da cidade que por isso dizem estarem esquecidos.

(publicado no Diário de Bauru em 05/11/1988, p. 11)

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