Profª Marcia Regina Nava Sobreira
Para que a sede do município, então
na Vila do Espírito Santo da Fortaleza, fosse transferida para o Distrito de
Paz de Bauru, foi preciso muita luta e até mesmo de alta dose de astúcia.
O
documento de grande valor histórico é o que adiante transcreveremos diz
respeito à primeira sessão da Câmara, ainda em Fortaleza, na qual se deliberou
a transferência da sede do município para a nossa cidade, que ao invés de
Fortaleza que estava em plena decadência, a Vila de Bauru progredia a passos
largos e até se falava em ser beneficiada por duas estradas de ferro.
Eis
o documento:
“Aos
sete de janeiro de mil oitocentos e noventa e seis, às dez horas da manhã, no
paço da Câmara Municipal desta Vila do Espírito Santo da Fortaleza, presente o
vice-presidente da Câmara ínclito cidadão Domiciano Silva, depois de haver
conferido compromisso dos vereadores novamente eleitos, convidados a tomarem
posse dos respectivos cargos e assumido a presidência o vereador mais velho
Manuel Jacintho Bastos, convidou a tomarem assentos os cidadãos eleitos Joaquim
Pedro da Silva, João Antônio Gonçalves, José Alves de Lima, foi dito que
achando-se na sala próxima o cidadão Domiciano Silva, reeleito vereador desta
Câmara, fosse o mesmo convidado a prestar compromisso e tomar parte nos
trabalhos. Aprovada a indicação, o cidadão presidente nomeou uma comissão
composta de três membros: José Alves de Lima, Joaquim Pedro de Lima e João
Antônio Gonçalves para introduzirem no salão, na forma do estilo o mesmo
vereador Domiciano Silva, o que foi feito a mesma câmara reunida conferia-lhe
de bem e fielmente desempenhar o cargo de vereador e, recebido o compromisso
que lhe foi dado pelo presidente interino e do que lavrou o respectivo termo,
tomou assento. Em seguida, o cidadão presidente interino convidou os cidadãos
presentes a elegerem-se entre si, o seu presidente, vice-presidente e
intendente. Suspendeu-se, para isso, por um quarto de hora a respectiva sessão,
visto como pediu o vereador Domiciano Silva, foi proposto e aceito que a
eleição se fizesse por escrutínio secreto de cédulas. Reaberta a sessão, digo,
apurada a eleição, para presidente verificou-se que obtiveram votos para
presidente Joaquim Pedro da Silva quatro votos, Domiciano Silva 1 voto; para
vice-presidente Domiciano Silva, quatro votos e João Antônio Gonçalves 1 voto.
Para intendente José Alves de Lima 4 votos, Manoel Jacinto Bastos 1 voto.
Apurada a eleição e promulgada a votação o cidadão presidente convidou o
cidadão eleito Joaquim Pedro da Silva a assumir a Presidência, e assumindo
mesmo a presidência da câmara, convocou os cidadãos vice-presidente Domiciano
Silva e intendente José Alves de Lima a assumirem os respectivos cargos e os
mesmos cidadãos dando-se por empossados neles, obrigando-se servirem ditos
cargos debaixo dos mesmos compromissos já prestados como vereadores. Em
seguida, o cidadão presidente deu a palavra aos vereadores presentes, a fim de
que por estes fosse apresentada qualquer proposta ou indicação no sentido de
ser formada em consideração por esta Câmara. Pediu a palavra o vereador João
Antônio Gonçalves, que apresentou a seguinte indicação. Considerando que os
vereadores que compõem a câmara municipal do Espírito Santo da Fortaleza são
todos residentes na próspera e futurosa população de Bauru; considerando que
aquela povoação de Bauru dista mais de quatro léguas da decadente Vila de
Fortaleza; considerando que por causa da distancia não poderão reunir-se tão
freqüentemente quanto exigem os interesses municipais que lhe são conferidos
pelo eleitorado; considerando ainda que, além desse inconveniente, sobressai
ainda a falta de recursos que há na despovoada Vila de Fortaleza, onde nem
sequer se acha quem pode fornecer aos vereadores, em despacho de sessões, as
refeições diárias; considerando ainda que a Vila do Espírito Santo de Fortaleza
está em completa decadência e total abandono, ao passo que a futurosa povoação
de Bauru, pedindo-se para esse ato a aprovação do Governo do Estado; segundo,
que desde hoje se considera mudada para aquela Vila a sede da municipalidade,
dando-se disso conhecimento ao Governo do Estado. Lida a proposta pelo cidadão
presidente, tomou a palavra o vereador Manoel Jacinto Bastos e abordando em
considerações tendentes a justificativa da proposta supramencionada e, por não
haver mais quem sobre ela quisesse falar, sujeitou-se o cidadão presidente a
votação da câmara, sendo o mesmo unanimente aprovo: em seguida, resolveu o
cidadão presidente nomear uma comissão ao que, entendendo-se com o intendente
da câmara passada, verificasse qual o saldo pertencente à câmara e existente em
poder o ex-intendente, bem como do arquivo e de mais objetos pertencentes à
Câmara. Para a referida comissão foram designados os cidadãos Domiciano Silva,
José Alves de Lima e Manoel Jacinto Bastos, devendo a mesma comissão, dar de
tudo conta a câmara nas próxima sessão.
Por
proposta do vereador Domiciano Silva, resolveu a Câmara unanimente continuar
amanhã e seus dias subseqüentes os trabalhos, reunindo-se para isso na Vila de
Bauru.
Em
seguida, achando-se presentes os cidadãos João Batista de Carvalho e José
Martimiano Bastos, convidou-os o presidente a tomar posse e prestar
compromissos dos cargos de Juiz de Paz para os quais foram eleitos, e tomados
os compromissos pelos cidadãos presidentes da Câmara, de tudo se lavrou a
presente ata, que vai assinada pelos vereadores e por mim secretário interino
João Pedro de Oliveira, que a escrevi.
Joaquim
Pedro da Silva, presidente
José
Alves de Lima, intendente
Domiciano
Silva, vice-presidente
João
Antônio Gonçalves,
Manoel
Jacinto Bastos”
(Publicação
pela primeira vez no Diário de Bauru de
29/11/1987 p.13. )
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